quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ALGUNS TIPOS DE DEVOTOS MARIANOS

2. DEVOTOS ESCRUPULOSOS

Na obra "Não tenhais medo!", João Paulo relata sua postura de devoto mariano escrupuloso, quando ainda era seminarista, e como a leitura do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem (São Luís Mª G. de Montfort) mudou radicalmente sua visão...

"A leitura deste livro fez com que eu mudasse a minha vida de forma radical e definitiva. Apesar disto, meu caminho interior foi longo, coincidindo com a preparação clandestina ao sacerdócio que eu vivenciava. Na ocasião, este tratado singular caiu em minhas mãos. Não se trata de um simples livro que se lê, apenas, e basta. Eu o levava sempre comigo, mesmo quando ia à fábrica de soda, se bem que a bela capa já estivesse manchada de cal. Eu lia e relia, sem cessar, e, sucessivamente, certas passagens.

Logo percebi que, além da sua forma barroca, o livro apresentava algo de fundamental. A partir de então, a devoção que, outrora eu dedicava à Mãe de Jesus, tanto na infância quanto na adolescência, deixou lugar a uma nova atitude de minha parte, transformando-se numa devoção vinda da mais profunda fé, como sendo o próprio cerne da realidade Trinitária e Cristológica. Antes, eu me mantinha retraído, temendo que a devoção mariana pudesse se avultar, em detrimento do amor a Cristo Jesus, em vez de ceder-lhe o merecido lugar; compreendi, então, à luz do tratado de Grignon de Montfort, que a realidade era bem outra. Nossa relação interior com a Mãe de Deus resulta, de forma orgânica, de nosso elo com o mistério de Cristo. Não existe a menor hipótese de que o amor que dedicamos à Virgem supere nosso amor a Deus. (…) Podemos até afirmar que, àquele que procura conhecer e amar a Deus, o próprio Cristo designa sua Santa Mãe, como caminho e intercessora, como fez no Calvário, oferecendo-a a seu discípulo, João."

(André Frossard e João Paulo II, Não Tenhais Medo! 1982, pp.184-185)

ALGUNS TIPOS DE DEVOTOS MARIANOS

1. DEVOTO CRÍTICO
 
Joseph Ratzinger/Papa Bento XVI confessa em entrevista sua postura crítica, em determinado momento de sua vida, diante de especial reverência à Maria Santíssima...
 
Quando eu era um jovem teólogo, antes do Concílio, tinha uma certa reserva quanto a algumas fórmulas antigas, como, por exemplo, aquela famosa "de Maria nunquam satis", "sobre Maria nunca se falará o bastante". Parecia-me exagerada. Além disso, tinha dificuldade de compreender o sentido verdadeiro de uma outra expressão famosa, repetida na Igreja desde os primeiros séculos, quando, após uma disputa memorável, o Concílio de Éfeso, em 431, proclamara Maria Theotókos, "Mãe de Deus". Refiro-me à expressão que chama a Virgem "inimiga de todas as heresias". Agora, neste período confuso em que realmente todo o tipo de desvio herético parece bater às portas da fé autêntica, agora compreendo que não se tratava de exageros de devotos, mas de verdades hoje mais do que nunca válidas. (destaques meus)

Joseph Ratzinger/Papa Bento XVI - Diálogos sobre a Fé. Entrevistas realizadas por Vittorio Messori - Lisboa, Editorial Verbo, 2005 - páginas 86 e 87.